30 de novembro de 2014

Vem comigo?

it all went out in a blink
and when you think about it
you will perceive that there was
nothing more to the picture
than what your eyes met

e é ai que tu segue
heartless, blinded
esbarrando nos cantos
caindo aos prantos:
have
      you ever
              minded
                       asking?

sobre sentimento
não colocando cimento all over it
somos pessoas, pumpkin,
e querendo ou não,
em nossas cabeças ecoa
tudo que no presente distoa.

it is not a choice
it just happens this way
e depois disso tudo, te pergunto:
are you gonna go my way?

26 de novembro de 2014

Educação pela pedra

pedra batida
pedra lascada
pedra polida

coração fosse feito pedra
duro, inexpugnável,
muro, intragável

murro fosse feito topada
sensibilidade inexistente
sentimento dormente

risca, jamais arrisca
pedra escolhida a dedo
opaca e seca sem medo
da natureza específica
nela tudo se aplica

nunca mente
nunca sente

murro fosse feito topada
topada fosse feito pedra
pedra fosse feito coração.

16 de novembro de 2014

Educação do Carimbó


à Dona Onete

coração remendado
cheio de coisas do passado
saudade, beijo, abraço,
mágoa, rancor, um amasso,
formas de corpos,
formas de amor e desamor,
cheiros, olhos e olhares,
lágrimas e seus mares,
bocas e seus pares,
nudez e insensatez,
loucuras e aventuras,
tapa, afago, cuspe, língua,
marcas de amor e ódio:
o amor em primeiro lugar no pódio.

hoje aquela senhora
no auge de sua sabedoria
de 75 anos
ensinou-me que todo coração
é um brechó:
cheio de coisas usadas
indesejadas
inacabadas.

9 de novembro de 2014

Desatino

faz tempo que não lembro
   das horas ou minutos
   vez outra do mês

            e não entendo
ou penso não entender
                    se já aconteceu
ou ainda está pra acontecer
     você está chegando
ou você já foi?

        tateio as palavras
uma a uma as organizo
       molho-as na chuva que sei
que virá dos teus olhos
  ou será dos meus?

não sei nomear
o que está acontecendo
nem sei apontar o rumo
          dar algum prumo
ou se aceito e simplesmente
                me acostumo

  mas não há esta opção
irá se partir um coração

será?

            o poeta diria
que nada permanece inalterado
     até o fim
e se é assim,
quais escolhas devo tomar?

12 de outubro de 2014

Questões

você vai me procurar
quando eu bater e queimar?

vai ser guarda
quando eu for chuva?

correnteza
quando eu estagnar?

surdez
quando eu for barulho?

guia
quando eu for cego?

poesia
quando eu for rancor?

paciência
quando eu for nós?

você vai me procurar
quando eu bater e queimar?

19 de setembro de 2014

Curitiba

Curitiba 
você me aflige 
feito fosse esfinge 
vem cheia de mistérios 
e enigmas que eu não decifro 
e então você me devora outra vez 
me enche os olhos de mudez 
engole tudo o que sou 
feito fosse esfinge 
você me aflige 
Curitiba

15 de setembro de 2014

Embalo da noite torta

teu cheiro
no meu travesseiro
já não tem mais

      e eu tô no meio fio
há tempo já não sorrio

eu canto poesia morta
e só quem me ouve
       é esta noite torta

(sob a janela do quarto
a cama dorme vazia...)

13 de setembro de 2014

8 de setembro de 2014

O que você vê

existo
sou de carne e osso
    problemas e erros

o que você vê
   é resultado
de tudo que já vi

insisto
sou nós
desatados e amarrados
sou passado e presente
        e futuro incerto

o que você vê
   é resultado
de tudo que já vivi

3 de setembro de 2014

Ela me disse

ela pegou e me disse
tua poesia é uma chatice
você não sabe escrever
e tudo que vem de ti
                   me dói ler
 
      entristeci
mas respondi
da única forma que sabia
      rabisquei uma poesia
                e nela eu dizia
 
     nem vem, meu bem
o amor não lhe convém
 e a poesia é para quem o tem

30 de agosto de 2014

Me ouve?

te dou todas minhas razões
as quais não sei quais são
te dou todos meus motivos
os quais desconheço
e mais várias outras coisas
as quais sempre esqueço

te daria tudo o que sou
mesmo sem saber ao certo
aos teus pés de peito aberto
me jogaria descoberto
das certezas que nunca tive

só pra que me ouvisse
quem sabe visse sentido
nesse meu pedido
tão fora de moda
será que isso te incomoda?

não me importa.
já cheguei à sua casa
e bati na porta.

27 de agosto de 2014

(Trans)Vista(-se)

não quero dar na vista
visto-me de máscaras 
pra me acabar na pista 
sumo e não deixo rastro 
rastejo pelo asfalto 
na falta que você faz 

persigo tuas pistas 
sigo as listras que deixou 
consumo-me com vinhos 
enquanto ouço teus passinhos 
ouso dizer próximos 
um átomo de distância 
 
por detrás dos arbustos 
uma exposição de vários bustos teus 
 
dizem-me que há amor 
em todos os poemas meus 
dizem-me que há amor 
em todas as canções tuas 
mas 
nem o verso meu 
nem a rima sua 
nem nossos corações  
batem mais na mesma batida 
das alfaias do maracatu. 
 
bom pra mim, 
bom pra tu?

21 de agosto de 2014

Brincadeira

lanço palavras
como criança que derruba
a caixa de brinquedos
e cria mundos

em poucos segundos
deixo até dez
aos teus pés

17 de agosto de 2014

Cotidiano

Hoje eu acordei e não levantei. Não quis levantar. Há meses não tenho vontade de levantar. Fingi que dormia para mim mesmo, uma tentativa para que a cabeça comprasse a ideia e adormecesse novamente. Não funcionou. Mas ainda assim, não levantei. Peguei o celular ao lado do travesseiro e vi as horas. Não que fizesse alguma diferença, fosse quatro da manhã ou quatro da tarde, nenhuma das duas opções seriam exatamente uma motivação. Fiz por automatismo. Vi que já passava do meio-dia. Eu sentia fome, mas não tinha muita vontade de comer. Isso envolveria se levantar da cama e isso estava completamente fora de questão. Não levantaria mais, ficaria ali deitado até que algo acontecesse.
E essa é a parte em que você se questiona "como assim até que algo acontecesse?" ou ainda "mas não vai fazer nada para mudar?".
Basicamente, se as pessoas não estão felizes com determinada situação, elas buscam mudanças, algo que melhore tal momento. Ao menos na maioria das vezes. Claro que há as que reclamam pelo prazer de reclamar, quando não possuem intenção nenhuma de mudar coisa alguma, pois o objetivo não é buscar certa mudança, mas apenas reclamar, jogar palavras fora, gastar saliva, ficar com a garganta seca.
E é esse tipo de pessoa que você pensa que este narrador é. Dos que cospem palavras. E é sempre mais fácil julgar a aparência ("soa apático, um tanto melancólico, desanimado, desmotivado, um tanto sem vontade de nada") do que se dar ao trabalho de, no mínimo, sei lá, imaginar o porquê de alguém se encontrar neste estado descrito. Pois é. É o que todos fazem e você, e me dando ao direito de generalizar, é só mais um nesse todo.
E quando alguém não consegue mudar? É. Simplesmente, não consegue. Quer, tem desejos a realizar e sonhos a alcançar. Mas não consegue. Algo alheio impede, alheio a vontade do alguém, uma vontade maior do que ele pode controlar. Uma vontade em não ter vontades ou ânimo suficiente para realizar qualquer coisa que seja. E não, não é frescura. É algo pelo qual simplesmente você não controle algum. É algo que você não tem controle.
Estranho pensar que alguém não tem controle sobre o que sente, mas, acredite, existe. Aos montes. Sim, é estranho. Mas mais estranho pra quem se sente assim e não sabe o que fazer é ainda tem que lidar com a incompreensão alheia, ouvindo coisas do tipo "você tem que se animar!", "não adianta ficar assim, tem que ser positivo!", "tem que dar a volta por cima!".
Não seja cruel. Não seja desumano. Não é uma escolha se sentir assim. Ninguém em sã consciência escolheria se sentir assim. A depressão não é uma brincadeira, não é uma frescura; é uma doença que precisa de tratamento e acompanhamento.
A depressão não é uma escolha.

14 de agosto de 2014

Das coisas que eu te disse

tudo que eu te disse 
você dispensa 
ignora, abstrai, coloca na despensa 
agora vem você me e me diz que pensou 
sobre tudo que eu pensei e perguntei 
o que é tudo para você, baby? 

tudo para mim 
são as noites insones e as caminhadas sem destino 
é minha cara acabada e meu coração em desatino 
são os livros que não leio e os poemas que não escrevo 
é tatear diariamente a alma e não sentir nenhum relevo 
são as linhas finas que cruzam a palma da minha mão sem nada revelar 
é te ver em cada esquina e em cada sonho e não me habituar 
são as dores que eu possuo e as que eu não possuo 
é minha mente feito campo de batalha e eu continuo 

e você acha que pensou 
em tudo que eu te disse? 

o que é tudo para você, baby? 

13 de agosto de 2014

Pelo avesso

e quando no fim
não tem final
e quando o fim
nada finda

como fica
o gosto amargo
como fica
a garganta seca

quando o que começou
pra alguém não terminou?

XII

a vida é um instante
uma luz que acende
uma luz que apaga

1 de agosto de 2014

Fio da navalha

um passeio na beira do precipício
três tiros para o alto
para assustar o vício
Deus mais uma vez
não ouviu o suplício

será que é disso que eu preciso?

dançando
um tango na beira do precipício
lançando
os pés fosse feito brincadeira
flertando
o perigo como fosse bom amigo

eu envergo, mas não caio.

31 de julho de 2014

Decifra-me

atiro palavras com quem carrega uma arma 
desarmo pessoas e a mim com comentários 
irônicos e sarcásticos, inteligentes e tristes 
tudo para esconder, tudo para encobrir 
tudo para que ninguém descubra. 

posso correr de um lado ao outro da rua 
em três pulos eu alcanço a lua e a dobro no bolso 
cobro a aposta e me coloco disposto a repetir a façanha 
tudo para que não notem minhas entranhas. 

mantenho tudo no andar de cima 
faço a festa e faço coquetéis 
de caipirinhas à molotov 
queimo a garganta e a casa 
boto tudo abaixo e entre o caos e a causa 
eu me encaixo muito bem 
tudo para que não percebam o que esta além. 

sou inalcançável, inatingível 
faço de escorregador um dirigível 
pulo de cabeça pra que eu me esqueça 
e pra que ninguém nada me ofereça 
eu viro o rosto e danço pro lado oposto 
tudo para que não vejam quem eu sou. 

30 de julho de 2014

Mar revolto

dos mares mais sombrios de uma alma
há dêmonios e tempestades que não pedem calma
ou compreensão.

quando vieram me buscar, eu não pude me deixar levar
estava nu, exposto para que todos vissem
minha roupa não me cobria, minha pele não me cobria,
minha carne não me cobria
e minh'alma tava ali,
para que todos a olhassem,
para que todos a julgassem,
para que todos a crucificassem
dos pecados terríveis que ela cometeu
das atrocidades imperdoáveis que perpetuou
dos crimes inomináveis que nominou.

é quando se descobre que o mundo está coberto
de divindades, de divindades
que olham
que julgam
que crucificam.

e não é preciso saber dos oceanos e mares e lagos e rios
que habitam as profundezas mais sombrias de uma alma
e oceanos e mares e lagos e rios não pedem calma.

25 de julho de 2014

Cama de casal

Peço uma cama pra dois
porque hoje eu tenho companhia.

A recepcionista sorri e pergunta
por quem eu aguardo.

Eu sorrio de volta e lhe respondo que aguardo
aquela que me conhece tão bem
que há tanto tempo está comigo
que sabe dos meus gostos e desgostos
o que eu como e o que eu cuspo
que me ama incondicionalmente.

Ela se espanta e pergunta
qual o nome de tal pessoa.

Eu sorrio sem dentes
lhe dou meu olhar mais vazio
e respondo
que hoje a Solidão dorme comigo.

18 de julho de 2014

Curitiba

Curitiba
cansei de você
das tuas ruas de petit-pavé
das tuas memórias mal quistas
das tuas cinzas vistas

Curitiba
você perdeu a mão comigo
agora te vejo apenas como abrigo
há tempos não é mais lar
a cada dia é mais difícil me enganar

Curitiba
está na hora de darmos um tempo
talvez vá embora pra Recife
passe um tempo em Florianópolis
talvez eu não volte mais

Curitiba
o problema
é que eu te gosto demais.

3 de julho de 2014

Fragilidade

saudade saudade saudade 

é uma puta maldade 
não ter você por perto 
um desafio constante à minha sanidade 

mas quem sabe um dia 
mas quem sabe um dia, um dia desses 
coração vai batendovai batendo 
mais devagardevagarinho 
cada vez que pensa em você 
quem sabe assim eu  
me sentindo menos menos sozinho 
querendo cada vez menos teu carinho 

me sentindo menos menos sozinho 
ainda que seja mais mais pózinho.

20 de junho de 2014

Sob um leve desespero

pode também que eu seja apenas vagabundo
ou um solitário que aprendeu no verso
que isso a que chamam de mundo
não é o centro das atenções do universo
Marcos Prado

A dor vai curar estas lástimas 
O soro tem gosto de lágrimas 

Quando caminho sozinho 
pelas ruas 
lembro sempre de todos 
os sonhos que tivemos 
lembro sempre  
de como eles não 
se realizaram 
foram tantos, tantos 
tantos. 

Não estarei mais vago, 
não irei mais estar vago. 
Ana, onde você está? 
Eu não vou mais te esperar, 
eu não aguento mais te esperar. 

Ana, 
você me dá pesadelos 
há semanas 
não esqueço do teu nome 
mas jamais me lembro 
do teu sobrenome. 

E ela acenava para o céu 
e rezava todas as noites 
e esperava sentada 
pelo milagre 
que nunca chegava. 

Não vou mais pensar em você 
como espinhos de rosas 
Não vou mais pensar em você 
como barril de pólvora em chamas 

Acordo todos os dias 
e escrevo num caderno 
"Você está vivo" 
apenas para me lembrar 
não quero estar aqui 
Prefiro o mar. 

Ela me dizia para não ser  
o que não podia ser 
mas aqui estou eu 
não sendo nada. 
Ana, cadê você?

12 de junho de 2014

1º Dia de Copa

caminhava a passos lentos pelo centro da cidade.
desejava passar a tarde na Biblioteca Pública, pegar aqueles livros que há tempos já estavam anotados em um aplicativo no celular. a Biblioteca estava fechada. não levou em conta que era dia de jogo do Brasil e de abertura da Copa. azar.
então, subiu a Rua do Rosário e passou alguns bons minutos na Líder, se perdendo na imensidão dos livros.
pensou então em ir ao cinema, superar um velho bloqueio e assistir um filme sem companhia alguma. atravessou a Tiradentes, desceu a Cândido de Abreu, em direção ao Mueller. subiu pelas escadas rolantes até o andar do cinema e ficou decepcionado ao perceber que nenhuma filme estava em exibição. no lugar dos filmes, apenas a abertura da Copa. pensou "quem vem assistir a abertura da Copa no cinema?!". abstraiu o próprio pensamento e seguiu até a Saraiva. anotou várias futuras compras (bem futuras!) naquele mesmo aplicativo no celular, sorriu, sentiu e quis ir embora. antes de sair do shopping, insistiu e passou na Curitiba, e na parte de quadrinhos, reparou na biografia de uma artista e suspirou com a dupla lembrança, do dia que era e de quem adoraria ganhar aquele presente.
afastou o pensamento.
saiu do shopping.
subiu a Cândido de Abreu voltando a Tiradentes, onde pegaria o ônibus. caminhava a passos lentos pela cidade, em meio a pessoas com camisetas do Brasil, buzinas de motoristas à torcedores iranianos (que retribuíram com acenos e largos sorrisos), vuvuzelas e buzinas manuais ensurdecedoras, alguns ônibus da FIFA Fan Fest lotados, a batidas policiais com uma delicadeza incomum, lojas fechadas.
aguardou longos trinta minutos pelo ônibus, sentou, retirou a pesada mochila das costas, ouviu a reclamação do cobrador que não aceitava estar trabalhando em pleno jogo do Brasil.
colocou os fones de ouvido.
sentiu-se sozinho.

Cura para a dor

hoje
mencionaram teu nome
e foi a 
primeira vez
 que o ouvi
fora da sala de terapia

e o impacto que apenas
teu nome
tem sobre mim
é assustador

meu peito congelou
minha mente esbranqueceu
minha garganta secou
meus olhos se perderam

não esperava
não esperava ouvir teu nome
não esperava estas sensações
não esperava

10 de junho de 2014

Pro fundo

Ninguém sabe do seu paradeiro
Ninguém sabe prá onde ele foi
prá onde ele vai
Zeca Baleiro

esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer
Leminski

Iludido e batido e abandonado
se satisfaz com trocados
teus amigos não te reconhecem
mas eles também nunca aparecem
o tédio é teu eterno companheiro
quando não está trancado no banheiro

vai à rua de braços abertos e grita amém
mas se nem deus te ouve, então quem?
teimoso não sai daquele mesmo caminho
nas noites te resta apenas o vagabundo vinho
às quatro da manhã você ainda não dormiu
tentaram te resgatar mas você não ouviu

por onde andará stephen fry?
faz tempo perdeu teu pai
mas será que você se recorda
de quando puxou aquela corda
ou como sempre, você discorda?

sente falta do tempo em que estava por aqui
caminhando no parque, observando um bem-te-vi.

9 de junho de 2014

Tempo

Jesus said time would heal all wounds
But we have to live right to get the time
Please, time, you got to be a friend of mine
Marvin Gaye

não é pra chegar ao fim
tampouco pra criar guerra

não é pra sujar a mão
nem cair tudo por terra

não é pra acabar assim
tampouco pra ficar sem ação

se soubesse disso antes
onde estariam meus olhos confiantes 
agora?