31 de maio de 2012

Reinventar-se

E vem você
suave decidida
vem vestida de pena
acabar com a cantilena
sem futuro

E vem você
despida de dor
sem ódio ou amor
absolvida terminar
a quase ilusão

E vem você
aceitando o não
mostrando vida
passagem sem volta 
apenas ida

28 de maio de 2012

Quando você voltar...

... por favor, tranque o portão, não bata a porta. A pequena demorou pra dormir, disse que sentia tua falta e queria ouvir tua voz e só dormiu depois de um bom tempo chorando. O café está passado, lembre-se de desligar a cafeteira. Fiz aquele bolo que você gosta e tem suco de uva na geladeira. Pois é, sei que é um dos teus favoritos. Não faça cena e, por favor, não grite. Ela tá dormindo, lembra?
Fique no sofá da sala, tenha certeza que ouvirei você chegando e irei te ajudar: sei que não estará bem. Não dificulte: não tente me bater, não me ofenda ou fale tuas verdades. Não as ouvirei. Não agora, pelo menos. Não vou discutir, ou retribuir tuas agressões, irá falar sozinha. Por isso, não se dê ao trabalho. E lembre-se: eu te amo.

18 de maio de 2012

Detalhes

Você reparou? Viu aquela folha caindo, flutuando lentamente num movimento de vai e vem, nesta doce brisa de outono, com este sol escondido por trás das nuvens, com um olhar tímido nos brindando um delicado e modesto sorriso? Você reparou?
Percebeu como ela sorri quando mordiscamos o lóbulo da orelha dela, e quando os olhos nos encaram inquisidores como que perguntassem "o que estão fazendo?", e a resposta que os nossos dariam seria "seja o que for, você está gostando". Você reparou?
Reparou como o tempo está fechando e estamos sem guarda-chuva? Despreparados como sempre, assustados e com questionamentos sinceros sobre se devemos nos proteger ou simplesmente correr pelos pingos enormes que despencam das nuvens zangadas no céu escuro. Você reparou como nós nos demos a mão, apertando com força, em como nossos olhos se encontraram e como crianças sorrimos mordendo os lábios e através de gargalhadas corremos pela chuva que caia? Você reparou?
Reparou como os pelos dela ouriçam quando nossos lábios roçam e brincam suavemente pelo corpo dela? Aquele corpo despido de roupas e vergonhas que diverte-se ao se debater na nossa cama e chutar as cobertas para os lados, em falsas tentativas de se desviar de nossas mãos ágeis. Você reparou?
Reparou como lá fora está um belo sol, um dia inesperadamente claro e revigorador? Você reparou em como quando já não há muitas certezas é que as coisas se confirmam, é quando abrimos a cortina e o sol ofusca nossos olhos, mas em poucos segundos o sorriso brota em nossos rostos pois o céu azul que vemos alegra qualquer dia? Reparou?
Você reparou em como é perfeito o contraste entre o teu branco e o moreno dela?
Pois deveria.