20 de junho de 2014

Sob um leve desespero

pode também que eu seja apenas vagabundo
ou um solitário que aprendeu no verso
que isso a que chamam de mundo
não é o centro das atenções do universo
Marcos Prado

A dor vai curar estas lástimas 
O soro tem gosto de lágrimas 

Quando caminho sozinho 
pelas ruas 
lembro sempre de todos 
os sonhos que tivemos 
lembro sempre  
de como eles não 
se realizaram 
foram tantos, tantos 
tantos. 

Não estarei mais vago, 
não irei mais estar vago. 
Ana, onde você está? 
Eu não vou mais te esperar, 
eu não aguento mais te esperar. 

Ana, 
você me dá pesadelos 
há semanas 
não esqueço do teu nome 
mas jamais me lembro 
do teu sobrenome. 

E ela acenava para o céu 
e rezava todas as noites 
e esperava sentada 
pelo milagre 
que nunca chegava. 

Não vou mais pensar em você 
como espinhos de rosas 
Não vou mais pensar em você 
como barril de pólvora em chamas 

Acordo todos os dias 
e escrevo num caderno 
"Você está vivo" 
apenas para me lembrar 
não quero estar aqui 
Prefiro o mar. 

Ela me dizia para não ser  
o que não podia ser 
mas aqui estou eu 
não sendo nada. 
Ana, cadê você?

12 de junho de 2014

1º Dia de Copa

caminhava a passos lentos pelo centro da cidade.
desejava passar a tarde na Biblioteca Pública, pegar aqueles livros que há tempos já estavam anotados em um aplicativo no celular. a Biblioteca estava fechada. não levou em conta que era dia de jogo do Brasil e de abertura da Copa. azar.
então, subiu a Rua do Rosário e passou alguns bons minutos na Líder, se perdendo na imensidão dos livros.
pensou então em ir ao cinema, superar um velho bloqueio e assistir um filme sem companhia alguma. atravessou a Tiradentes, desceu a Cândido de Abreu, em direção ao Mueller. subiu pelas escadas rolantes até o andar do cinema e ficou decepcionado ao perceber que nenhuma filme estava em exibição. no lugar dos filmes, apenas a abertura da Copa. pensou "quem vem assistir a abertura da Copa no cinema?!". abstraiu o próprio pensamento e seguiu até a Saraiva. anotou várias futuras compras (bem futuras!) naquele mesmo aplicativo no celular, sorriu, sentiu e quis ir embora. antes de sair do shopping, insistiu e passou na Curitiba, e na parte de quadrinhos, reparou na biografia de uma artista e suspirou com a dupla lembrança, do dia que era e de quem adoraria ganhar aquele presente.
afastou o pensamento.
saiu do shopping.
subiu a Cândido de Abreu voltando a Tiradentes, onde pegaria o ônibus. caminhava a passos lentos pela cidade, em meio a pessoas com camisetas do Brasil, buzinas de motoristas à torcedores iranianos (que retribuíram com acenos e largos sorrisos), vuvuzelas e buzinas manuais ensurdecedoras, alguns ônibus da FIFA Fan Fest lotados, a batidas policiais com uma delicadeza incomum, lojas fechadas.
aguardou longos trinta minutos pelo ônibus, sentou, retirou a pesada mochila das costas, ouviu a reclamação do cobrador que não aceitava estar trabalhando em pleno jogo do Brasil.
colocou os fones de ouvido.
sentiu-se sozinho.

Cura para a dor

hoje
mencionaram teu nome
e foi a 
primeira vez
 que o ouvi
fora da sala de terapia

e o impacto que apenas
teu nome
tem sobre mim
é assustador

meu peito congelou
minha mente esbranqueceu
minha garganta secou
meus olhos se perderam

não esperava
não esperava ouvir teu nome
não esperava estas sensações
não esperava

10 de junho de 2014

Pro fundo

Ninguém sabe do seu paradeiro
Ninguém sabe prá onde ele foi
prá onde ele vai
Zeca Baleiro

esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer
Leminski

Iludido e batido e abandonado
se satisfaz com trocados
teus amigos não te reconhecem
mas eles também nunca aparecem
o tédio é teu eterno companheiro
quando não está trancado no banheiro

vai à rua de braços abertos e grita amém
mas se nem deus te ouve, então quem?
teimoso não sai daquele mesmo caminho
nas noites te resta apenas o vagabundo vinho
às quatro da manhã você ainda não dormiu
tentaram te resgatar mas você não ouviu

por onde andará stephen fry?
faz tempo perdeu teu pai
mas será que você se recorda
de quando puxou aquela corda
ou como sempre, você discorda?

sente falta do tempo em que estava por aqui
caminhando no parque, observando um bem-te-vi.

9 de junho de 2014

Tempo

Jesus said time would heal all wounds
But we have to live right to get the time
Please, time, you got to be a friend of mine
Marvin Gaye

não é pra chegar ao fim
tampouco pra criar guerra

não é pra sujar a mão
nem cair tudo por terra

não é pra acabar assim
tampouco pra ficar sem ação

se soubesse disso antes
onde estariam meus olhos confiantes 
agora?

8 de junho de 2014

A praia

A noite
- enorme,
tudo dorme
menos teu
nome
Leminski

A melhor hora da praia
são os castelos de areia
e os olhares daquelas sereias

é caminhar com as ondas da Joaquina
e sorrir sem ter nenhuma rotina

Na melhor hora da praia
a ciranda de estrelas
estrelavam um único espetáculo
nas duas breves noites
que (lá) existiram.

7 de junho de 2014

À Noite

A dúvida cobriu a minha vida
Como a língua cobre de saliva
Cada dente que sai da gengiva.
Arnaldo Antunes

Toda a paz da minha guerra
Jogos bobos e sujeira de terra
Meia dúzia de crianças ansiosas
Outra meia dúzia ociosas

Nunca te vi, apenas errei
Vivo com a incerteza do amanhã
Há tempos fujo e não busco
Hoje esbarrei naquela velha parede

Toda a paz da minha guerra
eterna
dentro de mim.