27 de outubro de 2011

Silent Shout: V

 Eu não sei se é por eu ter me fodido tanto nessa vida desgraçada, mas eu fico pé atrás com cada pessoa que me envolvo. Entenda pessoas como quiser, não ligo pro que você acha. Digo que já me machuquei bastante, e por mais que eu goste do que a outra pessoa me diga, fico desconfiado, em dúvida, se ela tá sendo sincera ou tá só jogando. Eu não gosto muito de joguinhos, tenho problemas em diferenciar o quanto é brincadeira, o quanto é verdade e o quanto é invenção dentro desses joguinhos em relacionamentos.
Conheci a Erma semana passada, terminamos na cama após uma noite louca pra caralho, de bebida e ficando com pessoas diversas. Ela é foda. Ela é linda, inteligente, divertida. Naquela noite não dormimos: transamos e conversamos sobre os assuntos mais bizarros e diversos da vida. Levantamos e vimos o por do sol da janela do quarto dela, no quarto andar. Não vou esquecer essa cena. 
Sabe o problema? O problema é que ela aparenta ser sincera. Isso me desarma: o sorriso dela é lindo... e sincero. Acho que tô ficando meio paranóico mesmo, tão acostumado a lidar com pessoas dissimuladas e falsas, que quando me deparo com alguém honesto, fico sem saber como agir. Mas até eu ter certeza de alguma coisa, ficarei pé atrás, considerarei ambas possibilidades, ela ser uma mentirosa boa pra caralho e que ela é realmente uma pessoa sincera, que realmente sente o que fala. Independente disso, gosto de estar com ela. E você tem que entender meu lado, não tô acostumado com pessoas dizendo que se sentem bem pelo simples fato de falar comigo.

24 de outubro de 2011

Ar

Àquela que gosta da espontaneidade

O baque dum mês
vivido com você
me fez sorrir outra vez

18 de outubro de 2011

Silent Shout: VI

- Vem cá – fiz uma cara complacente e a envolvi nos meus braços. Abracei forte, pra mostrar o quão preocupado estava, pra passar uma sensação de proteção e conforto. Acredito que um abraço pode dizer muita coisa, em várias situações. Um abraço pode dizer o quanto você deseja aquela pessoa ou o quanto você a despreza. O quanto você se preocupa e o quanto você tá cagando. O quão desesperado por afeto cê tá, ou o quanto de afeto você está disposto a dar.
Os meus abraços são diversos, como o nível do meu apreço pelas pessoas. Se eu te abraço forte e em seguida te olho nos olhos e te pergunto como está, eu realmente quero saber como você está, pois me preocupo contigo. Os outros abraços não importam, nem as pessoas que não são abraçadas assim, importa você que é abraçada assim, saiba o meu sentimento.
Por isso, quando te vi, com os olhos vermelhos e as pernas bambas de tristeza, eu não disse nada além de “vem cá”. Eu não fiz nada além de te abraçar, pois você não precisava de mais nada além disso. Não fiz perguntas, não julguei, não quis saber. Eu fiz apenas o que precisava ser feito: te abraçar.

15 de outubro de 2011

Silent Shout: III

Acordei agora a pouco, ainda sob efeito do álcool. Tinha caprichado no bar: em três bebemos umas vinte garrafas de cerveja. De um litro. Sim, eu tava legal, no mínimo. Sai capengando do bar, bem alegre, e vim pra casa me escorando nas paredes do Centro. Gosto do Centro a noite: a calma, o silêncio, a rua XV absolutamente vazia: é uma sensação tão boa de solidão, a brisa noturna, aquele delicioso ventinho frio de Curitiba, batendo no rosto. Sentei num dos bancos da rua e fiquei uns dez minutos assim, parado, admirando o céu. Tava uma lua linda pra caralho. Fazia muito tempo que eu não parava pra admirar o céu, e fiquei muito embasbacado com o tamanho daquela lua cheia. Ela tava enorme, aí eu já não sei te dizer até que ponto foi influência do álcool, e muito, mas muito, brilhante. Apesar de apreciar a solidão daquele momento, adoraria ter tido alguém pra apreciá-lo junto comigo. A única companhia que eu tinha, além da solidão, eram os mendigos enfurnados nos seus casacos e japonas, deitados em seus papelões rasgados e cobertos com mantas, cobertores e jornais. Eles estavam muito ocupados tentando se esquentar e sobreviver pra poder apreciar comigo a beleza daquela lua cheia. Levantei-me do banco e vim pra casa.