31 de julho de 2014

Decifra-me

atiro palavras com quem carrega uma arma 
desarmo pessoas e a mim com comentários 
irônicos e sarcásticos, inteligentes e tristes 
tudo para esconder, tudo para encobrir 
tudo para que ninguém descubra. 

posso correr de um lado ao outro da rua 
em três pulos eu alcanço a lua e a dobro no bolso 
cobro a aposta e me coloco disposto a repetir a façanha 
tudo para que não notem minhas entranhas. 

mantenho tudo no andar de cima 
faço a festa e faço coquetéis 
de caipirinhas à molotov 
queimo a garganta e a casa 
boto tudo abaixo e entre o caos e a causa 
eu me encaixo muito bem 
tudo para que não percebam o que esta além. 

sou inalcançável, inatingível 
faço de escorregador um dirigível 
pulo de cabeça pra que eu me esqueça 
e pra que ninguém nada me ofereça 
eu viro o rosto e danço pro lado oposto 
tudo para que não vejam quem eu sou. 

30 de julho de 2014

Mar revolto

dos mares mais sombrios de uma alma
há dêmonios e tempestades que não pedem calma
ou compreensão.

quando vieram me buscar, eu não pude me deixar levar
estava nu, exposto para que todos vissem
minha roupa não me cobria, minha pele não me cobria,
minha carne não me cobria
e minh'alma tava ali,
para que todos a olhassem,
para que todos a julgassem,
para que todos a crucificassem
dos pecados terríveis que ela cometeu
das atrocidades imperdoáveis que perpetuou
dos crimes inomináveis que nominou.

é quando se descobre que o mundo está coberto
de divindades, de divindades
que olham
que julgam
que crucificam.

e não é preciso saber dos oceanos e mares e lagos e rios
que habitam as profundezas mais sombrias de uma alma
e oceanos e mares e lagos e rios não pedem calma.

25 de julho de 2014

Cama de casal

Peço uma cama pra dois
porque hoje eu tenho companhia.

A recepcionista sorri e pergunta
por quem eu aguardo.

Eu sorrio de volta e lhe respondo que aguardo
aquela que me conhece tão bem
que há tanto tempo está comigo
que sabe dos meus gostos e desgostos
o que eu como e o que eu cuspo
que me ama incondicionalmente.

Ela se espanta e pergunta
qual o nome de tal pessoa.

Eu sorrio sem dentes
lhe dou meu olhar mais vazio
e respondo
que hoje a Solidão dorme comigo.

18 de julho de 2014

Curitiba

Curitiba
cansei de você
das tuas ruas de petit-pavé
das tuas memórias mal quistas
das tuas cinzas vistas

Curitiba
você perdeu a mão comigo
agora te vejo apenas como abrigo
há tempos não é mais lar
a cada dia é mais difícil me enganar

Curitiba
está na hora de darmos um tempo
talvez vá embora pra Recife
passe um tempo em Florianópolis
talvez eu não volte mais

Curitiba
o problema
é que eu te gosto demais.

3 de julho de 2014

Fragilidade

saudade saudade saudade 

é uma puta maldade 
não ter você por perto 
um desafio constante à minha sanidade 

mas quem sabe um dia 
mas quem sabe um dia, um dia desses 
coração vai batendovai batendo 
mais devagardevagarinho 
cada vez que pensa em você 
quem sabe assim eu  
me sentindo menos menos sozinho 
querendo cada vez menos teu carinho 

me sentindo menos menos sozinho 
ainda que seja mais mais pózinho.