28 de março de 2012

Ar X

arrisquei
             e
rabisquei
    bre
          ves
          versos
       doces
       inversos
                      do que eu
     ansiava
procurar.

faltou
           ar
risquei
       verbos
    diversos
     que não
             cabiam
             nem
      satisfaziam
             o
universo
      da nova
                     poesia
          que escrevia.

[o que]
       perma
                   nece [é]
 o doce
 sabor nos lábios
           e o
  odor suave do
             novo perfume:
                     acostume-
                                   se,
 amor.

18 de março de 2012

Sonho

Livro aberto, por completo exposto, e nada de você. Tua cama aconchegando, fiz dela ninho, meu corpo reagindo às cenas que visualizo em minha cabeça, o que farei com você quando chegar e me ver desse jeito na tua cama. Há uma nada sutil elevação no cobertor que vai até minha cintura e essa espera que perdura apenas descontrola o que nunca teve muito controle tratando-se de você. E meu corpo nu que arrepia com o vento delicado que atravessa as cortinas que criam uma envolvente atmosfera nesse teu quarto: esta penumbra onde as sombras do Desejo e do Sexo dançam em conjunto, tomando formas tentadoras e sedutoras.  Ligeiramente descabelado, me bato e me jogo e me viro na tua nossa cama: seduzido pelo Desejo, o fôlego começa a faltar e o descontrole a reinar: esta espera está matando aos poucos: a elevação lateja, pulsa incontrolável: a alma faz malabarismo e acrobacias, enlouquecida pelo gosto suave do vinho do Desejo e meu corpo é o salão – em cada parte dele reverbera uma memória tua – em que ela pula e dança e gesticula e não cansa.

E neste embate em que o Desejo está vencendo com considerável vantagem, ouço um som mágico que vira o jogo: o estalo da fechadura e a porta rangendo ao se abrir. O sorriso mais libertino brota em meu rosto quando ouço teus passos, cada vez mais altos conforme se aproxima da porta. Lanço o olhar mais descarado que possuo, com um leve arquear da sobrancelha, e o sorriso libertino se expande ainda mais quando a porta se abre e a coberta voa para o chão e eu te digo o mais cínico “olá”.

9 de março de 2012

Viver

Tentei parar com a poesia:
não me dá o pão de cada dia
e com ela o dinheiro não se cria.

Me prostitui: fui me ter com a prosa.
Caí na vida: coloquei um vestido de chita rosa
e me fodi duma maneira vergonhosa.

Me encantei com a crônica:
tentei uma verve meio camaleônica.
Não deu: me acabei no gim-tônica.

Me recomendaram jornalismo:
escrevi sobre o islamismo
e me apedrejaram pelo meu artificialismo.

Apelei pro texto infantil:
veio me encher o saco um tio
e mandei tudo pra puta que pariu.

Resolvi seguir minha sina:
voltei pra poesia!
Vou viver de faxina,
mas é o que me dá alegria.