31 de outubro de 2012

O rei deposto

Decretaram-me falência.
Algo meio súbito, sem precedência.
Acusaram-me de demência,
e me expulsaram na urgência.

Tiraram-me do meu trono,
dele não sou mais dono.
Perdi meu quimono,
e junto com ele meu sono.

Já não sei mais
o que são banquetes e festivais
ou súditos leais.

Há ainda aquela assombração,
que ronda com certa dedicação:
um constante espião
fazendo-me viver numa ilusão.

Eu sou o rei deposto,
que não cumpriu o proposto.
Aquele que só causou desgosto;
um palhaço sem rosto.

Eu sou o rei deposto,
que se enganou com seu posto.
Sinto-me um farsante exposto
e agora vivo a contragosto.

9 de outubro de 2012

O menino do Rio

Menino do rio
calor que provoca arrepio
toma esta canção
como um beijo
Caetano Veloso

Era uma saída planejada: havia segundas e terceiras intenções. A mente arquitetara toda uma linha de passos a serem seguidos, assuntos a serem tocados.
Um pequeno atraso, para que a ansiedade e a apreensão o capturasse. Queria dúvidas e um pouco de insegurança em sua cabeça.
O menino chegara pontualmente, e de longe nos avistou. Atravessou a rua com passos firmes, um olhar cheio de atitude e sorriu conforme se aproximava. Após breves cumprimentos, dirigimo-nos a um bar próximo. Enquanto bebíamos, o menino demonstrava todo a simpatia que já sabíamos possuir: um sorriso encantador, uma facilidade em comunicar-se e as figuras de linguagem que denunciavam onde nascera e sua idade.
A tarde passou rápida: com conversas informais, risadas jogadas e mãos se acariciando discretamente. A ansiedade do menino era visível: respostas curtas e uma certa inquietação transparecia em cada parte dele. Quando o convite de tomar um café, na nossa casa, surgiu, não houve hesitação.
Ao sentarmos no sofá, o clima era tenso, porém fizemos questão de descontrair o menino, para que ele se sentisse a vontade. Conforme nos aproximávamos, o toque dele ficava um pouco mais firme, e seus músculos um pouco mais tensos.
Num rápido movimento, bocas se descobriram. Enquanto a mão do menino percorria certas curvas, meu corpo colava nas costas dele e minha boca desbravava a deliciosa pele morena, com beijos carinhosos e mordiscadas no pescoço. No momento em que uma das minhas mãos acarinhava seus cabelos, a outra explorava os detalhes seu corpo, sentindo os músculos firmes e a pele lisa, eu chegara a alguma conclusão: aquele menino não existia.
Ofegante, ele suavemente começou a deitar seu corpo sobre o meu, a cabeça inclinando-se sobre meu ombro. Meus lábios escalaram o pescoço, beijo a beijo, até os lábios dele. A boca não era apenas linda: tinha o sabor d'algo jovial e aqueles lábios, até então trêmulos, sabiam tão bem o que faziam.
Mãos rápidas, as minhas deslizaram corpo abaixo e surpreenderam um volume, mais do que esperado. Tateei levemente, aguardando um retorno, que veio através de gemidos silenciosos. Há tempo não sentia algo tão cheio de vida. O volume surpreendera: a textura era deliciosa e era tão pulsante! Minha mão entreteve-se, impressionada, por ali, brincando e sentindo toda a vida que palpitava. Conforme minha mão subia e descia, os gemidos aumentavam, os olhos giravam e, com um último suspiro, o êxtase foi alcançado.
Ao terminar o café, uma certa dúvida sobre o menino se abatera, uma confusão comum para algo incomum. Ele havia se descoberto, e a aceitação de algo novo nunca é fácil. Espero que ele opte por  si, e por tudo que sentira naquele momento.
Ao ir embora, para mim o que ficou foi aquele cheiro de menino, cheio de tesão, que impregnou minha cabeça e dela não sai de forma alguma.