24 de agosto de 2017
Felicidade
um eterno retorno, preso ao tempo
sem fast forward and there's no going back
segue como um raio, um risco, um cisco, um riso
uma intempérie imprevista e impossível
sem pista, simplesmente um passo e pronto:
flutua belamente, como um avião sem asas
é inesperada e surpreendente
chega suave e etérea, um sonho sem sentido
uma pintura de plumas de aço que alça voos
pousa mariposa morna lisa
e transforma em forma e verso tudo o que pisa
logo depois, tudo volta
é súbito, um edifício que cai
e nada tivesse acontecido, vai
mas logo
- senta, espera, não demora -
volta
21 de agosto de 2017
Em agosto (ou 26)
não sou rei de nada
mas já fui deposto
e não há duende, bruxa ou fada
que devolva o meu posto
Mais um dia frio em agosto
em Curitiba o vento gelado
passa e corta o rosto:
moribundo e desanimado
alma e coração em desgosto
Mais um dia frio em agosto
já não vejo sol faz mais de ano
e do meu brilho suposto
não há notícia no cenário urbano;
vivendo meio a contragosto
resta apenas a certeza que haverá
Mais um dia frio em agosto.
23 de julho de 2017
Vinho
naquele dia que você não era via
mas em ti passeava todas as luzes
- pura euforia -
eu que já nada devia
penhorava toda minha rima vida lágrimas poesia
para dos teus olhos negros
fazer brotar o dia
13 de junho de 2017
23 de fevereiro de 2017
Carolina
Ai Carolina,
e esse teu amor que tanto desafina?
você que tanto diz do amor
mas deixa ele passar tão fácil
para se transformar em rancor?
Ah, Carolina!
você não percebe ou finge não,
mas esse teu amor é só rotina:
não completa nem preenche,
não traduz brilho à retina.
Carolina...
tua saudade me enganou,
te esperei, você não chegou.
Te deixo então
com o que me permitem lhe dar:
tenha de mim, todo o meu silêncio.
28 de janeiro de 2017
Do outro
tenho todas as cicatrizes de todos os amores,
umas tão reais quanto uma costela quebrada,
outras tão sentimentais quanto uma melancólica música do Damien Rice.
sabia de tudo que era ruim antes dos vinte e cinco,
pois de mim ninguém escapou:
quem planta vento, colhe tempestade.
lembro de todos os nãos e de todos os sims,
cada um a sua forma moldou tudo o que sou:
concreto e pena.
cada sorriso de uma criança por mim causado
eram como gotas d'água num deserto imenso:
minha alma agradecia a fé restabelecida.
este poema só existe em função do teu
e sorte a minha eu não ter escapado de ti.
Lorenz há anos percebeu e isso muito me perturba:
quando eu bato minhas asas, de quem a vida muda?
24 de janeiro de 2017
Dia a dia
queria poder andar com a calma
de quem não tem pressa na alma:
observar o casal de barulhentos papagaios
que rondam as praças do Centro
ou
sentar e fechar os olhos e ouvir e sentir
cada uma das badaladas do sino da Catedral
ou
andar como os passos da menina
com tattoo no pescoço:
passos lentos de quem tem alma na calma
passos que observam, passos que não tem hora
e eu
passos rápidos de quem está atrasado
não olho, nem reparo, nem sinto ou observo
nada além do meu relógio
e da insegurança da possibilidade de perder a hora
enquanto a vida com certeza perco
17 de janeiro de 2017
Em mim, de mim
dentro de mim sou muitos
dentro de mim cabe o mundo
desconheço tudo que sou
sei de tudo que me faz:
sopros, sussurros, suspiros
suor, sangue, sons
a explosão bruta lentamente queimando
a paz escassa belamente preservada
o diabo com olhos em lágrimas
o anjo com sorriso malicioso
dentro de mim cabe o mundo
dentro de mim sou muitos