29 de maio de 2013

Ar XI

Escuta, não quero contar-te do meu desejo
Quero apenas contar-te da minha ternura
Manuel Bandeira

só nós dois
meu amor
não cabemos em mim ou em você
como toda gente tem que não ter cabimento
para crescer
Arnaldo Antunes

I

Isso não tem nada a ver com ciúme.
É apenas que teu cheiro, teu perfume,
me enlouquecem.

Eu fica completamente fora de mim;
ver tuas cores radiantes é o estopim:
dissolve-se a razão.

(Dos teus Campos,
eu peço apenas
rosas e lírios)

II

As palavras que vêm de ti rodopiam no ar.
Vida própria, criam imagens e mundos,
remexem com meu eu mais profundo
e não há Tabacaria que faça eu voltar.

E eu não ligo se do meu amor eu dou Bandeira:
por ele e por ti eu puxo a faca da algibeira,
por ele e por ti eu corro e paro na beira:
por ele e por ti eu pulo da ribanceira.

Pra chamar tua atenção, faço um iê iê iê,
mexo pra cá, mexo pra lá, faço um balancê,
recito Murilo e grito de dentro da gaiola
que você jamais sairá da minha cachola!

III

Então chega de lero-lero.
É em ti, e apenas em ti,
que tenho tudo que quero.

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