27 de abril de 2013

Marcado a ferro

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
Baudelaire 

O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
A. Antunes
 

Minha mente é perturbada pelo vazio e pela constância inconstância dos destroços dos barcos que se partiram em grandes muralhas de pedras em noites tempestuosas regadas à trovões e densas nuvens negras.
E os meus sentimentos pegam fogo de dentro para fora em chamas espirais que giram e giram e incendeiam tudo ao redor com delicados toques como as pontas dos dedos que roçam a pele suave das bochechas esculpidas cuidadosamente por Michelangelo do casal de namorados que senta-se todas as noites na beirada do abismo e ali se abraçam e contam as estrelas juntos.
Minha dor se propaga como o vento sem direção objetivo ou caminho ela apenas segue e transforma-se em brisas ventos ventanias tornados e furacões e ela me envolve e ela me consome e ela me apóia e ela me derruba e ela me levanta e ela me derruba.
E amanhã irei a praia deixarei meus problemas na areia e irei me banhar no mar o mar que tanto sinto falta o mar que me ajudará a trocar de pele (como cobra) que lavará minhas cicatrizes e minhas marcas que me livrará dos meus pesadelos que acolherá minhas lágrimas infindáveis que me tornará algo melhor.
E pode não acreditar mas por debaixo destes erros todos há um ser humano por debaixo destes olhos sedados há um ser humano por debaixo destas mãos sujas de sangue há um ser humano.

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