6 de janeiro de 2013

Ar X

Ela me pediu um poema.
Resmungou que há tempos
não escrevia algo pra ela.
E quem resiste a cara do amor?

Pensei então que poderia 
descrever, minuciosamente,
uma paisagem familiar pra mim:
as estradas de curvas fechadas
que passeiam até belas montanhas,
desembocando em um vale
que só pode ter sido desenhado à mão,
tamanha perfeição.

Mas não. É clichê demais.
Pensei em cruzar comparações,
como a sensualidade do tango
casa com a latinidade
tão presente naqueles quadris
que com movimentos sutis,
e outros nem tanto,
me hipnotizam:
alguns desejos nada santos.

Ou ainda,
resgatar poetas e compositores,
quem sabe um ou dois pintores,
e fazer um poema
que fosse só dela.
Talvez com um pequena introdução,
para deixar clara a intenção:
ceci n'est pas un poème.

Entre tantas ideias,
acabou que nenhuma escolhi.
Cheio de dúvidas,
simplesmente desisti
e nada escrevi.

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