15 de outubro de 2011

Silent Shout: III

Acordei agora a pouco, ainda sob efeito do álcool. Tinha caprichado no bar: em três bebemos umas vinte garrafas de cerveja. De um litro. Sim, eu tava legal, no mínimo. Sai capengando do bar, bem alegre, e vim pra casa me escorando nas paredes do Centro. Gosto do Centro a noite: a calma, o silêncio, a rua XV absolutamente vazia: é uma sensação tão boa de solidão, a brisa noturna, aquele delicioso ventinho frio de Curitiba, batendo no rosto. Sentei num dos bancos da rua e fiquei uns dez minutos assim, parado, admirando o céu. Tava uma lua linda pra caralho. Fazia muito tempo que eu não parava pra admirar o céu, e fiquei muito embasbacado com o tamanho daquela lua cheia. Ela tava enorme, aí eu já não sei te dizer até que ponto foi influência do álcool, e muito, mas muito, brilhante. Apesar de apreciar a solidão daquele momento, adoraria ter tido alguém pra apreciá-lo junto comigo. A única companhia que eu tinha, além da solidão, eram os mendigos enfurnados nos seus casacos e japonas, deitados em seus papelões rasgados e cobertos com mantas, cobertores e jornais. Eles estavam muito ocupados tentando se esquentar e sobreviver pra poder apreciar comigo a beleza daquela lua cheia. Levantei-me do banco e vim pra casa.
Como eu disse, acordei agora a pouco. Sentei-me na cama, e a cabeça deu um pequeno chute, mas não tava de ressaca: eram só as ideias se acertando dentro da cabeça. Arrastei-me até ao banheiro, parei em frente a pia e me olhei no espelho: minha cara tava uma bosta. Tinha uma semana que eu não fazia a barba, minha cara tava amassada de ter dormido demais, minhas olheiras estavam absurdas, meu cabelo ensebado pra caralho, meus olhos esbugalhados de ter dormido mal e me batido pela noite. Fiquei olhando aquela cena deprimente, que era eu, por uns cinco minutos. Falei comigo mesmo: 
- Puta que o pariu. Que porra cê tá fazendo com a sua vida? Ontem pela manhã cortaram a porra do teu telefone, mas de alguma forma a noite cê conseguiu entornar várias e chegou torto em casa. Tá certo que cê nem usa a porra do telefone, mas dinheiro pro bar não falta, né, filho da puta?! Afinal, pra que ter telefone se tem cerveja, não é?! Caralho... A depressão d’eu ser um vazio, um merda sem rumo, me invadiu. Cabisbaixo, voltei pro quarto, fechei as cortinas, peguei o cobertor e dormi novamente. 
Peguei o biarticulado e fui até o Parque Bacacheri. O parque em si não tinha nenhum atrativo especial, mas eu adorava esse parque em especial pela porrada de boas recordações que ele me trazia. Adorava sair perambulando por ali, olhar certos lugares e reavivar memórias, aquilo me devolvia sensações maravilhosas, eu me lembrava duma época que a minha vida era muito mais simples e eu era muito mais feliz. Lembrava de sorrisos, de tropeções, de conversas, de beijos e abraços, de jogos e gargalhadas. E até as lembranças, por assim dizer, tristes, no que fora um baque tremendo na época. Hoje em dia, tudo que eu gostaria era de sentir um baque desses novamente, pra me lembrar que eu estou vivo e que ainda sou capaz de amar alguém, pra me lembrar que eu sou humano, pra recuperar um pouco minha fé nas pessoas, que se esvai cada dia um pouco mais.

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