Como eu disse, acordei agora a pouco. Sentei-me na cama, e a cabeça deu um pequeno chute, mas não tava de ressaca: eram só as ideias se acertando dentro da cabeça. Arrastei-me até ao banheiro, parei em frente a pia e me olhei no espelho: minha cara tava uma bosta. Tinha uma semana que eu não fazia a barba, minha cara tava amassada de ter dormido demais, minhas olheiras estavam absurdas, meu cabelo ensebado pra caralho, meus olhos esbugalhados de ter dormido mal e me batido pela noite. Fiquei olhando aquela cena deprimente, que era eu, por uns cinco minutos. Falei comigo mesmo:
- Puta que o pariu. Que porra cê tá fazendo com a sua vida? Ontem pela manhã cortaram a porra do teu telefone, mas de alguma forma a noite cê conseguiu entornar várias e chegou torto em casa. Tá certo que cê nem usa a porra do telefone, mas dinheiro pro bar não falta, né, filho da puta?! Afinal, pra que ter telefone se tem cerveja, não é?! Caralho...
Peguei o biarticulado e fui até o Parque Bacacheri. O parque em si não tinha nenhum atrativo especial, mas eu adorava esse parque em especial pela porrada de boas recordações que ele me trazia. Adorava sair perambulando por ali, olhar certos lugares e reavivar memórias, aquilo me devolvia sensações maravilhosas, eu me lembrava duma época que a minha vida era muito mais simples e eu era muito mais feliz. Lembrava de sorrisos, de tropeções, de conversas, de beijos e abraços, de jogos e gargalhadas. E até as lembranças, por assim dizer, tristes, no que fora um baque tremendo na época. Hoje em dia, tudo que eu gostaria era de sentir um baque desses novamente, pra me lembrar que eu estou vivo e que ainda sou capaz de amar alguém, pra me lembrar que eu sou humano, pra recuperar um pouco minha fé nas pessoas, que se esvai cada dia um pouco mais.
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