17 de agosto de 2012

A beleza de tudo, é a certeza de nada

obrigado Zeca Baleiro e Lobão pelo  título

a chuva está caindo suavemente, e lentamente meus cabelos começam a ficar úmidos. as gotas então começam a escorrer pelo meu rosto, traçando pequenos rios com uma correnteza contínua: há uma certa beleza nisso que me comove: é como se cada uma destas pequenas gotas estivessem buscando uma liberdade, e a conseguissem, ao perambular livremente pelo meu rosto. elas riscam seu próprio caminho.
sou grato por esta repentina chuva. minhas lágrimas aproveitam o traçado das gotas, que mantém sua correnteza pelo meu rosto, e se misturam a elas. se escondem assim, uma pretensão de não serem nada além de mais gotas pelo meu rosto. mas elas não me enganam, não mais. sei que elas caem de outro céu, do firmamento dos meus olhos, esses dois labirintos castanhos confusos e curiosos. ela diria que meus olhos são arqueólogos, pois estão sempre procurando algo, tentando ver através da superfície dos outros, tentando descobrir as relíquias escondidas de cada um. mas nem sempre acham o que procuram. e é quando a frustração se abate sobre eles: ao perceberem que não são todos que possuem relíquias escondidas, e que nem todas são verdadeiras.
é uma tarde de primavera, com toda a leveza que a estação proporciona: os sorrisos são gratuitos, as pessoas estão doces e o tratar com o próximo se torna menos complicado. nós pensamos duas vezes na primavera: há uma harmonia nesta estação que nem o mais mau humorado de nós se arrisca em quebrar. a primavera é uma orquestra e nós somos os músicos que a tocam, mantendo o ritmo e a afinação. até esta chuva não tira o bom humor das pessoas, que sorriem e andam em passos apressados para se proteger, ou do casal de namorados escondidos em baixo do guarda-chuva abraçados como se fossem um, ou da criança que pisa na poça d’água e ganha um olhar de reprovação seguido de uma cara desanuviada acompanhada por um sorriso belo e tenro da mãe.
não havia reparado o quão belo é a essência da chuva: o ato de lavar tudo o que toca. percebi, então, o porquê das minhas lágrimas. não era só meu rosto e corpo que era lavado.
chovia dentro de mim, e ali, ali dentro, minha alma era completamente lavada. e as lágrimas eram suas dores indo embora.

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